Ser mineiro é mais que nascer ou viver nas terras das Minas Gerais, como definem os dicionários... Ser mineiro é ter um trem de ferro apitando nas veias, é ter os sinos da igreja matriz nos olhos, é fazer boca de pito, comer guisado de ora-pro-nobis com angú, banhar-se nas águas de cachoeiras cristalinas, é ter nos lábios a cor do minério de ferro, a resistência do aço laminado das siderúrgicas nos atos que exigem coragem, é ser doce e macio como os suspiros e as brevidades das cozinhas de fogão à lenha...
Mineiro das grandes cidades não foge às características do mineiro das pequenas urbes, só que tem saudades... Tem saudades de pedir a bênção aos pais e aos padrinhos, tem saudade de rolar no canto da boca uma sementinha de goiaba que escapou à peneira e vem premiar seu glutão no mais perfeito casal romântico da culinária mineira: goiabada cascão com queijo. Mineiro como quieto, fala pouco, desconfia sempre! Mineiro de metrópole quer comer couve com torresmo quando pensa na mãe, não perde o trem de vista, arranha os olhos com um trem, carrega um trem na bolsa e questiona o outro trem.
Se o acento da cantilena da voz mineira é substituído pela educação fonológica formal, o "uai" jamais é esquecido nos discursos de admiração, de indignação ou de dúvida... Uai, será que não?!
Salvo os linguistas, ninguém mais repara na transformação do léxico mineiro e, aos poucos, instauramos uma nova forma nominal dos verbos em substituição ao gerúndio, na qual ocorre, sem qualquer tipo de constrangimento, a apócope da consoante sonora /d/ , e já não mais estamos amando , querendo ou partindo mas, "amano, quereno e partino"...
Quando o mineiro está "amano", está "quereno" partilhar o seu amor e, se vai "partino", leva, na sua mala, preciosos quinhões desta terra hospitaleira. Êh trem!!! Mas disso os dicionários nada entendem!
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