sábado, 19 de março de 2011

Nos bosques da memória

As árvores de minha infância , trago-as de cor na memória... Os altos jatobeiros que abrigavam centenas de maracujás (doces visitantes folgados que se enredaram em suas copas e não quiseram mais deixar a hospedaria), as mangueiras, goiabeiras, abacateiros e laranjeiras de toda sorte que amadureciam o pomar no quintal de minha velha casa no bairro São Miguel. Havia também os limoeiros, a mexeriqueira candongueira , o pau-doce e o pé de marmelo, que nunca dera frutos, mas dessas últimas árvores eu não gostava muito. O marmeleiro nunca teve outra função que não a de fornecer seus flexíveis galhos finos para servirem de chibata a mim e meus irmãos à menor peripécia salutar da infância. Eta arvorezinha que não deixou saudades!

O mundo, no entanto, em pouco tempo se demonstrava bem maior que o grande quintal da minha casa e perto do bar do Seu Claudionor crescia o mais lindo pinheiro jamais visto naquelas redondezas... A Rua da Escola Coronel Câncio, na Vila Operária tinha as mais lindas e floridas patas-de-vacas. Não, não é exagero! Em nenhum outro lugar da cidade havia rua mais bonita e florida!Aliás, árvores que dessem flor mais bonita que aquelas, somente o pessegueiro da casa de Vó Dora e a margarida de árvore que cresceu perto do chiqueiro do quintal la de casa.

As árvores de minha infância permanecem apenas nos bosques da minha memória. Trago-as de cor... Que nada mais é que outra corruptela de nossa Língua (de cor= de coração) O que fora feito delas? Algumas viveram o quanto puderam e secaram de pé, como convém a toda árvore. Outras foram degoladas e ainda sangram em mim, como o velho pinheiro...

Ainda passo olhares furtivos pelas árvores de minha meia-idade... e tenho o privilégio das mais belas árvores, com nomes e sobrenomes, ao alcance de meu olhar. Cercam-me manacás floridos – mas a respeito desses falarei em outra ocasião - ipês protegidos por Lei Federal, flamboyants, paineiras e ela, a poderosa e deslumbrante acácia imperial! Um belo exemplar daquela que inspirou o terno poema de Guilherme de Almeida em A rua das rimas “e acácias paralelas, todas elas belas, singelas, amarelas,douradas, descabeladas, debruçadas como namoradas para as calçadas”. Acho que já não é viável confiar na memória as lembranças de tantas árvores... Será preciso fotografá-las para a posteridade, a fim de que não fiquem na memória apenas como uma natureza morta.

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